Planeta Bola: Leicester City e o título impressionante (final)

– Muito embora para finalizar a série sobre o fantástico Leicester campeão inglês de 2016 a coluna seja direcionada ao setor ofensivo, terei de pedir ao atento leitor pequena vênia, especialmente por desfocar de Okazaki, titular em grande parte dos jogos daquela temporada, e Ulloa, o décimo segundo jogador do elenco, pois, ao tratar do ataque daquele time, uma história que merece ser abordada: Jamie Vardy.

– Nascido em 11 de janeiro de 1987, Vardy teve vida conturbada até os seus 20 anos, vez que em 2007 não era sequer profissional e dividia o seu tempo entre fábricas e futebol amador, ao melhor estilo “The English Game”, série que dramatiza fatos reais, disponível na Netflix e amplamente indicada aos amantes do esporte bretão.

– À época, a vida pessoal do jogador também teve destaque: após se envolver em confusão para defender um amigo, deficiente auditivo, Vardy foi condenado criminalmente e cumpriu prisão domiciliar por seis meses, o que atrasaria sua guinada do modesto Stocksbridge, onde atuava por 30 libras por semana, revezando com intenso turno de 12 horas em fábricas, ao Leicester e à seleção inglesa.

– O incidente, aparentemente, forjou Vardy dentro das quatro linhas. Trazendo ao imaginário brasileiro, ele tem muito de Kléber Gladiador: é aquele atacante chato, que não desiste do jogo, aguenta o tranco, dá carrinho, e principalmente: dá medo!

– Rápido, excelente finalizador com ambas as pernas, aguerrido, mesmo sem formação de base, o atacante trouxe consigo toda gana de alguém que vivenciou na pele as dificuldades da vida. Aos campos profissionais, Vardy trouxe a malandragem e a garra dos terrões amadores, e sua história começou a ganhar destaque.

– Jamie Vardy chegou ao Leicester em maio de 2012, ano em que foi amplamente criticado pelas suas atuações medianas, especialmente por ser um jogador já com 25 anos, época em que cogitou abandonar o esporte e foi convencido pela comissão técnica a permanecer – e que sorte!

– Na temporada 2013/2014, ainda na segunda divisão inglesa, Vardy explodiu e em 37 jogos contribuiu com 16 gols e 10 assistências, auxiliando no acesso dos Foxes. Novamente, na temporada seguinte, oscilou e em 34 jogos fez apenas 5 gols e 10 assistências, na véspera do que seria o seu conto de fadas.

– Quando do título, Vardy se tornou o jogador que é hoje em dia: letal. Extremamente adaptável ao estilo adotado por Claudio Ranieri, o inglês começou a desabrochar em termos de atuação. Mais maduro e inteligente, participou de 36 partidas, fazendo fantásticos 24 gols e 8 assistências.

– Campeão, Vardy foi vice-artilheiro da Premier League e eleito o melhor jogador. Ademais, naquela temporada foi convocado pela seleção inglesa junto com Harry Kane, chegando a atuar na Copa do Mundo de 2018.

– Vardy é o emblema do conto de fadas que foi o título do Leicester, um símbolo do time e, ouso dizer, é hoje aos seus 33 anos o maior ídolo da história dos Foxes.

– Da várzea, do chão de fábrica ao título inglês, à consagração na seleção inglesa, Jamie Richard Vardy conclui, com chave de ouro, a série do título inglês do Leicester City, que repito: é a maior e mais surpreendente conquista de um clube na última década de nosso planeta! Aos torcedores do Leicester, não pode faltar: No Vardy, No Party!

Fraternal amplexo.

Renan Binotto Zaramelo é advogado e jornalista