Planeta Bola: Leicester City e o título impressionante (2)

– A dose de saudosismo continua na coluna da semana, narrando um pouco daquele fantástico Leicester 2015/2016, hoje tratando sobre a tática do time e seu brilhante comandante, o italiano Claudio Ranieri.

– Talvez cause estranheza ao leitor que esse colunista/corneteiro alcunhe o treinador Claudio Ranieri de brilhante, afinal, o nome tem muito menos alarde do que Mourinho, Guardiola e outros, mas o feito do italiano na temporada 2015/2016 o faz merecer todos os elogios possíveis.

– Ranieri foi um zagueiro mediano, de longa trajetória no inexpressivo Catanzaro antes de se aposentar e iniciar a epopeia nos bancos europeus, trilhando seu caminho por clubes como Napoli, Juventus, Atlético de Madrid e Inter de Milão, sem um absoluto destaque em termos de conquistas entre o seu inicio em 1987/1988 e o apogeu em 2015/2016.

– O treinador chegou ao Leicester vindo da seleção grega, após dura temporada dos Foxes em 2014/2015, quando houve flerte direto com o rebaixamento e a queda do antes respaldado Nigel Pearson, contando com o limitado elenco do ano anterior acrescido dos experientes Fuchs (lateral-esquerdo – foto) e Huth (zagueiro) e dos desconhecidos Okazaki (atacante) e Kanté (volante).

– Ao aterrissar na Terra da Rainha, os méritos de Ranieri começaram a aparecer na montagem de sua esquadra inicial, um time operário, sem estrelas e com grande destaque a uma verticalidade absoluta.

– Os méritos que o fazem ganhar a alcunha de brilhante remontam ao seu conhecimento de elenco, profundidade e, especialmente, noção tática que prescinde a individual (clube) para a geral (liga), com o italiano optando por alinhar os Foxes em um básico 4-4-2 linha, estilo muito utilizado na liga inglesa, especialmente até a década de 80.

– As características de elenco não lhe permitiam abusar do jogo aéreo, o que seria facilitado pelo esquema, porém, Ranieri reparou que com o plantel que detinha em mãos poderia utilizar um jogo direto e vertical, com velocidade no último terço e, especialmente, força na defesa.

– Alinhava-se então o elenco base daquele fatídico episódio com: Schmeichel no gol, Simpson e Fuchs nas laterais, Morgan e Huth no miolo de zaga, Kanté e Drinkwater eram os meio-campistas mais recuados, sendo Albrighton e Mahrez os “meias-alas”, com Vardy e Okazaki na referência de ataque.

– Muito embora vencedor, o Leicester de Ranieri não fazia questão de ludibriar ou tentar surpreender seus oponentes em termos táticos: era um time que jogava forte defensivamente, com zagueiros bons no jogo aéreo, experientes e viris, laterais que pouco – ou quase nada – acrescentavam no jogo ofensivo mas eram excepcionais na composição da última linha, dois volantes pegadores – Kanté dispensa comentários – e de razoável passe, dois ponteiros velozes, sendo Albrighton mais aberto e Mahrez mais criativo, inclusive por dentro, e dois atacantes rápidos, um deles iluminado ao ponto de ser convocado para a seleção inglesa – falo de Vardy, que terá um capítulo à parte.

– A beleza da equipe montada por Ranieri e o brilhantismo do regista daquele milagre se encontra na simplicidade de reconhecer as limitações, especialmente em termos de profundidade do elenco, porém, identificar a união de seus jogadores, sua humildade e suas características para construir a sólida estrutura voltada em defender-se bem e atacar com velocidade suficiente para pegar o adversário se recompondo.

– Algo que nos parece simples, dificilmente é visto no futebol mundial, e daí posso cravar Ranieri como um dos grandes destaques daquele elenco e grande protagonista da abordagem e disciplina tática de seus atletas. Claudio permaneceu em Leicester como técnico até 2017, sendo até hoje tido como injustiçado por boa parte dos saudosos torcedores que, para sempre, terão aquele time e o seu comandante no coração.

Fraternal amplexo.

Renan Binotto Zaramelo é advogado e jornalista