Um dos mais experientes e ecléticos narradores esportivos da televisão brasileira, profissional e ser humano admirado pela ética e pelo caráter, o americanense José Francischângelis Júnior, o Jota Jr., espera voltar em breve às transmissões pelos canais Sportv , do Grupo Globo. No ano passado, em março, no início da pandemia, a emissora decidiu afastar do trabalho, por questões de segurança e saúde, todos os profissionais com mais de 60 anos de idade.
Desde então, Jota Jr. tem passado os dias em Americana e longe dos microfones. Aos 72 anos, casado, pai de três filhos e avô de quatro netos, o narrador tomou a primeira dose da vacina contra a covid-19 no mês passado e vai receber a segunda agora nos primeiros dias de abril. Embora ainda não exista nenhuma previsão por parte da emissora, sua expectativa é que, imunizado, possa retornar o quanto antes à telinha.
Jota Jr. está no Sportv desde 1999 e tem contrato com a maior emissora do Brasil até o final de 2022. Conhecido por seu jeito tranquilo e sereno, o narrador deixa escapar no semblante um pouco da ansiedade para voltar à narração.
Afinal, desde 1969, quando fez as primeiras transmissões pela Rádio Clube de Americana, Jotinha, como é carinhosamente chamado, nunca ficou tanto tempo afastado das jornadas esportivas. Ele conversou com O JOGO sobre o atual momento. Confira!
O JOGO – No ano passado, quando a Globo avisou que os jornalistas com mais de 60 anos seriam afastados pelo protocolo da pandemia, você imaginava que ficaria tanto tempo longe das transmissões?
JOTA JR. – Não imaginava. Me lembro até que algumas pessoas no estúdio, depois da última transmissão, diziam que logo logo estaríamos de volta. Não tínhamos a noção da gravidade da pandemia.
O JOGO – Neste momento, um ano após o afastamento do trabalho, do que você mais sente falta?
JOTA JR. – Sinto falta da convivência com os colegas de trabalho, da rotina das viagens e, é claro, do futebol e outros esportes.
O JOGO – Se você pudesse escolher a forma de como será seu retorno, como seria: no estúdio ou no estádio?
JOTA JR. – A empresa já avisou que as transmissões irão acontecer do estúdio. Todos nós preferimos o local dos eventos, mas o momento não permite deslocamentos e trânsito.
O JOGO – O que você tem feito neste período para manter-se “antenado” profissionalmente?
JOTA JR. – Tenho acompanhado todo o desenrolar dos campeonatos para ficar atualizado, além de exercitar reflexões sobre tudo o que está ocorrendo. Leituras, muitas. E as lives, que tenho feito com muita gente.
O JOGO – Quando a pandemia terminar, como você acredita que será a nova realidade do esporte, em especial do futebol?
JOTA JR. – A par de toda a gravidade da pandemia, ela está sendo uma grande oportunidade para se mudar o esporte em muitos sentidos e no mundo todo. Precisa ser mais humanizado mesmo tendo o lado profissional em jogo. Acredito que teremos muitas mudanças, sim.
O JOGO – Na sua opinião, a pandemia veio para ensinar alguma coisa ao ser humano?
JOTA JR. – Não tenho dúvida que a pandemia tem sua missão nessa passagem do planeta e da humanidade. Não é somente um vírus. O recado é muito mais profundo. Cabe a nós entendermos os sinais. Não é difícil compreender.
O JOGO – Como tem sido seu dia-a-dia, seu cotidiano fora do lado profissional?
JOTA JR. – Nunca pensei que um dia iria prestar tanta atenção na vida, na natureza, no ser humano, na essência da nossa existência. Tenho tido muitas reflexões. Leio bastante e me distraio com palavras cruzadas e cripto.
O JOGO – Mesmo afastado das transmissões, você tem acompanhado o futebol? Quais times chamam mais a atenção?
JOTA JR. – Sinceramente tenho visto muito pouco os jogos. Ainda mais sem plateia. Mas aqui no Brasil é claro que Flamengo e Palmeiras estão bem acima dos demais.
O JOGO – O futebol brasileiro na atualidade tem mais técnicos estrangeiros do que teve em outras épocas. Você acredita que seja uma tendência que veio para ficar?
JOTA JR. – Sempre haverá lugar para os bons treinadores. Pode até ser algo momentâneo termos varios treinadores estrangeiros, mas não podemos esquecer que os resultados é que consagram técnicos. Mas até aqui eles têm demonstrado qualidade e boa dinâmica em treinamentos. Têm acrescentado muito.
O JOGO – Você acredita que há segurança e clima para a realização dos Jogos Olímpicos este ano?
JOTA JR. – Com tudo o que os japoneses têm feito e com toda a tradição cultural de altíssima responsabilidade desses irmãos, creio que há segurança sim para os Jogos. A qualidade técnica olímpica é que pode ser comprometida, pois os atletas do mundo todo estão sendo prejudicados em seu preparo por causa da pandemia. Mas o Japão saberá fazer a Olimpíada.
O JOGO – Qual seu ponto de vista profissional sobre a “invasão” de ex-atletas e ex-árbitros nas transmissões do futebol?
JOTA JR. – Ex-atletas e ex-árbitros nas transmissões julgo importantes pela bagagem e vivência dentro do campo. Televisão se compõe de astros e estrelas do esporte e isso sempre é atração para os telespectadores. Acho que eles têm espaço, mas a presença de jornalistas é imprescindível, pois as transmissões precisam da técnica jornalística. Quanto as polêmicas, elas sempre existirão, pois o futebol é assim.