Irmãs de Americana concluem Caminho da Fé

As irmãs Carol e Marina em frente à Basílica de Aparecida do Norte

As irmãs Marina e Carolina Panuncio (Carol), de Americana, concluíram o tradicional Caminho da Fé durante o feriado da Independência. A história da gestora de tráfego de 29 anos e da coordenadora de Marketing da Rede de Supermercados Pague Menos de 39 anos foi escrita pela persistência.

Em dezembro do ano passado, acompanhadas pelo guia de turismo e produtor de eventos Deco Ghirardelli, marido de Carol, elas iniciaram a peregrinação, mas tiveram que abandonar após seis dias. A saúde debilitada de Deco em razão de intoxicação alimentar e as dores insuportáveis de joelho de Carol impediram a conclusão.

“Chorei em silêncio naquela noite. Me senti derrotada e culpada pela intoxicação do Deco”, revelou Carol. “Desde então, o desejo de concluir era latente. Eu tinha o propósito de concluí-lo antes de completar um ano da primeira jornada. E assim nasceu o planejamento da segunda tentativa”, explicou a coordenadora de Marketing.

De acordo com Carol, em junho eles tomaram a decisão de retomar o Caminho da Fé de onde haviam parado, na cidade de Luminosa, em Minas Gerais. Desta vez, porém, Deco, que faz a peregrinação várias vezes ao ano como guia, ao invés de caminhar, foi com carro de apoio.

“Mesmo eu e minha irmã nos sentindo melhor preparadas e já cientes dos desafios, ter o Deco como apoio nos deu mais confiança para o caso de algo sair do controle”, disse Carol. “Talvez fosse um pouco de medo de não conseguir concluir novamente”, admitiu.

As americanenses partiram de Luminosa no dia 5, por volta das 6 horas, e chegaram no santuário de Aparecida do Norte no dia 7, em torno das 13 horas, num total de 107km de caminhada. Missão cumprida.

“Eu e minha irmã somos muito diferentes uma da outra, mas ambas possuem uma característica forte, que é a persistência. Foram três dias de muitos desafios, cansaço e dores pelo corpo. Mas também de muita superação, cumplicidade e generosidade”, comentou Carol.

“Tantas pessoas passaram por nós, nos desejaram força, palavras de fé, nos ofereceram água, alimento e muito mais. São tantos pequenos gestos que nos reconfortam durante o Caminho, que não há dor que seja maior que o sentimento de gratidão e amor”, afirmou a coordenadora.

“Cada pessoa que inicia o Caminho da Fé o faz por um objetivo, seja autoconhecimento, penitência, superação, reafirmação da fé, enfim, eu fui sem nenhum. Só queria sentir a experiência de viver algo novo. Eu precisava daquele momento comigo mesma”, contou Marina.

“As longas caminhadas foram de muita superação e fé. Bastavam o ar, as paisagens e a capacidade de continuar caminhando para reorganizar os pensamentos e entender que precisamos de pouco. É lá que compreendemos a simplicidade da vida. A maior riqueza que vi no Caminho foi a solidariedade”, finalizou a gestora de tráfego.

Abaixo, o depoimento de Carol e Marina, e o relato do dia a dia da peregrinação

CAROL PANUNCIO

Em 2020, planejamos nossa primeira peregrinação, planejamos concluí-la em dez dias. Iniciamos no dia 20 de dezembro, percorremos até o dia 26, com a parada em Luminosa-MG. A intenção era subir até a pousada da Dona Inês, mas nosso desgaste, dor e cansaço não permitiram.

Paramos ali mesmo, na entrada de Luminosa, na pousada Gonçalina, onde fomos calorosamente recebidos por Maria Goretti e seu esposo, que nos serviram água gelada e ainda nos ofereceram uma canja deliciosa.

Nesta mesma pousada, encontramos o peregrino Matheus, que conhecemos no Caminho e naquele dia já não estava mais peregrinando, agora fazia apoio de uma dupla de amigos que percorriam o Caminho de bike.

Ao ver nosso desgaste, ofereceu ajuda, disse que poderia ver com o amigo dono do carro de nos levar até Campos do Jordão, isso pouparia meu joelho, que já estava bastante comprometido.

Passamos aquela noite na pousada e no dia 27 seguimos até Campos, mas nesse mesmo dia, o Deco, que já não estava muito legal, piorou ainda mais. Uma intoxicação alimentar o deixou bastante debilitado, somado ao estado crítico do meu joelho, decidimos que era hora de parar. Não era mais seguro continuar no Caminho.

Chorei em silêncio naquela noite, me senti derrotada e culpada pela intoxicação do Deco. Pra quem não sabe, ele é produtor de eventos e guia de turismo, vive na estrada  e no dia 31 de dezembro retornaria para o Caminho da Fé, dessa vez como carro de apoio de um grupo, ou seja, precisava estar bem.

Compramos as passagens no dia 27 à noite e na manhã do dia 28 saímos da rodoviária de Campos do Jordão rumo a Americana. Estava encerrado nosso Caminho da Fé!

Desde então o desejo de concluir era latente, eu tinha um propósito, concluí-lo antes de completar um ano da primeira jornada. E assim nasceu o planejamento da segunda tentativa.

Foi em junho que eu, Deco e minha irmã Marina decidimos retornar ao Caminho de onde paramos, na cidade de Luminosa-MG. E a data escolhida foi o feriado 7 de setembro.

Planejamos fazê-lo em três dias. Desta vez seria um pouco diferente: o Deco, ao invés de caminhar conosco, iria com carro de apoio.

Mesmo eu e minha irmã nos sentindo melhor preparadas e já cientes dos desafios, ter o Deco como apoio nos deu mais confiança, caso algo saísse do controle.

Talvez fosse um pouco de medo de não conseguir concluir novamente.

Quando decidi tentar de novo o Caminho, duas coisas não me saíam do pensamento: o desejo enorme de concluir e o medo de não conseguir mais uma vez.

O Caminho da Fé proporciona tantas coisas, ao mesmo tempo que desperta motivação, satisfação, te faz questionar se realmente deveria estar ali, fazendo aquela “loucura” aos olhos de muitos. Ele também transmite paz interior, reorganiza seus pensamentos, permite a conexão com os lugares e pessoas por onde passa.

No Caminho, somos capazes de perceber e valorizar a simplicidade, a generosidade e a solidariedade.

Eu e minha irmã somos muito diferentes uma da outra, mas ambas possuem uma característica forte: a PERSISTÊNCIA!

Foram três dias de muitos desafios, cansaço e dores pelo corpo. Mas também de muita superação, cumplicidade e generosidade.

Tantas pessoas passaram por nós, nos desejaram força, palavras de fé, nos ofereceram água, alimento e muito mais.

Um dos momentos mais marcantes, tirando o da chegada, foi quando num trecho da estrada de asfalto em Campos do Jordão, eu e minha irmã, já bastante cansadas, caminhavámos um pouco mais lentas, quando um casal que passava de carro, parou e disse: “Estamos doando água, vocês aceitam?”

Ainda tínhamos um pouco de água em nossas garrafas, mas aceitar os presentes que o Caminho oferece faz parte da peregrinação, então aceitamos. Tomamos aquela água geladinha, gostosa que nos encheu de força e gratidão.

Depois, no segundo dia, esse mesmo casal parou novamente e nos ofereceu água, aceitamos de novo e seguimos em frente. Por duas vezes, fomos agraciadas com a generosidade e solidariedade das mesmas pessoas. Na vida também acontece, mas às vezes estamos tão dispersos com outras preocupações que não notamos.

São tantos pequenos gestos que nos reconfortam durante o Caminho, que não há dor que seja maior que o sentimento de gratidão e amor.

Quando fizemos o caminho o ano passado, eu estava com uma mochila que pesava pouco mais de 10 quilos e por dias me recusei a dividir os pertences para aliviar o peso. Ou seja, tive orgulho e ele me custou dores insuportáveis, que foram capazes de me fazer desistir do meu objetivo.

Claro que a saúde do Deco, também comprometida, contribuiu com a decisão de parar.

O fato é que fomos até onde deveríamos ter ido naquele momento, seja por orgulho ou destino, não era nossa hora de concluir o Caminho. E eu precisava entender e aprender com isso.

Chegamos em Aparecida do Norte na terça-feira, 7 de setembro, às 13 horas, e o sentimento ao concluir foi de enorme satisfação e gratidão.

Saber nossa capacidade de superar subidas, descidas, frio, dores é muito gratificante.

Dessa vez, aprendi a ouvir, fui com uma mochila menor, somente com o necessário para caminhar durante os três dias.

Agradeço a Deus e Nossa Senhora por nos darem a força necessária para superar passo a passo nossas fraquezas, dores e medos.

Também agradeço ao Deco, que foi nosso apoio, que nos encorajava e dizia que a chegada era “logo ali”.

Ainda não podemos deixar de agradecer nossa família que nos enviava prece e muito amor.

Foram três dias de caminhada e 107 km percorridos, mas a dimensão de tudo que vivemos é incalculável.

E para aqueles que desejam fazer uma peregrinação, seja por fé ou autoconhecimento, só digo que sigam firmes no propósito, não é fácil, não é confortável, mas é gratificante e poderoso.

MARINA PANUNCIO

Cada pessoa que inicia o Caminho da Fé, inicia por um objetivo, autoconhecimento, penitência, superação, reafirmação da fé, enfim… Eu fui sem objetivo, só queria experimentar a experiência de viver algo novo, eu precisava daquele momento comigo mesma.

As longas caminhadas foram de muita superação e fé, bastavam o ar, as paisagens e a capacidade de continuar caminhando para reorganizar os pensamentos e entender que precisamos de pouco. É lá que compreendemos a simplicidade da vida… a maior riqueza que vi no caminho foi a solidariedade.

Queria melhorar como pessoa e voltar mais leve pra casa, e foi desta forma que consegui concluir meu Caminho… muita gratidão por ter vivido essa experiência!

DIA A DIA BY CAROL

Saímos de Americana no sábado, dia 4 de setembro, paramos pra almoçar em Consolação-MG e matar a saudade da Adriana, do restaurante Santo Sabor. Ela foi um dos presentes do dia 25 de dezembro de 2020.

Chegamos na pousada da Dona Inês por volta de 15 horas, descarregamos o carro e aproveitamos para registrar algumas fotos. A vista daquele lugar é incrível, aliás, essa é uma característica do Caminho, a sua beleza é indescritível.

Domingo – 5 de setembro

Começamos o Caminho da Fé!

Acordamos às 5 horas, tomamos café às 5h30 e às 6 horas começamos nossa jornada. Logo de início havia um primeiro desafio, uma subida íngreme e longa, mas que a cada passo percorrido a vista era cada vez mais recompensadora.

Ah, estava me esquecendo: a Marina na sexta-feira, véspera de nossa viagem, teve forte dor no joelho e viajou com salonpas nele pra aliviar até o dia da caminhada.

Bom, retomando ao Caminho, pouco mais de 2km, o Deco nos aguardava, estávamos bem e ele seguiu até o próximo ponto de encontro. Assim, seguimos até chegar na divisa de estados.

Já em Campos do Jordão, uma parada para retomar o fôlego e seguir adiante. Fomos em frente até encerrar o trecho da estrada de terra, nesse trajeto sentimos medo, cruzamos com muitos trilheiros de motocross, que percorriam o trecho em alta velocidade.

Chegamos no asfalto, ali trocamos de tênis para aliviar a tensão nos pés e joelhos, dali até Campista (bairro de Campos de Jordão), seriam 10 km entre subidas e descidas.

Durante esse trecho, muitos ciclistas cruzavam conosco, desejavam força e palavras de fé.

Mesmo diante da exaustão, ouvi-los era reconfortante.

Em Campista, encontramos o Deco na pousada da Rose, paramos pra descansar, comer algo e seguir em frente. E assim fizemos, nossa parada durou cerca de 40 minutos, o suficiente para esfriar o corpo e nos lembrar das dores desse primeiro dia. Ainda faltavam 12 km a serem percorridos e não podíamos nos abater.

Seguimos em frente, com pelo menos umas quatro subidas bem puxadas e outras nem tanto.

Chegamos no último trecho, dali até a pousada Hotel da Montanha, ainda faltava mais 3 km, mas nosso trajeto encerrava ali. Nesse primeiro dia, percorremos 33 km. Seguimos de carro até a pousada, com sentimento de satisfação em concluir o primeiro dia, que foi muito puxado, cansativo, doloroso, mas vencido!

Segunda – 6 de setembro

Novamente acordamos às 5 horas, tomamos café às 5h30 e às 6 horas partimos. Da pousada até o Horto Florestal de Campos do Jordão, onde inicia o Caminho, fomos de carro, esse é um trecho perigoso para ser feito a pé, a estrada é estreita, não há acostamento,  por isso é recomendado pegar um transporte público, carona ou táxi.

Nesse dia a temperatura era de 6 graus, ou seja, estava frio. Esse foi o primeiro desafio do dia.

Partimos, percorremos uns 4,5 km até encontrar com o Deco no Mirante Pau Arcado, onde fizemos mais algumas fotos e seguimos adiante.

O destino desse dia era Gomeral e ainda faltava muito chão pela frente.

Percorremos mais uns 6 km até chegar na pousada Santa Maria da Serra, ali comemos um pão e tomamos um refrigerante. Não demoramos, pra não bater mais canseira, afinal a cada parada e com o corpo mais frio, as dores surgiam e tornavam o caminho mais penoso.

Próxima parada, a Trutaria Bela Vista, um lugar gostoso, com um mirante incrível, que faz jus ao nome do local, mas o tempo mais fechado, não colaborou para um registro da vista.

Já eram quase 12 horas e a fome era um dos incômodos, decidimos comer e beber algo, descansar um pouco antes de seguir.

Hora de seguir em frente, ainda restava pouco mais de 12 km e o cansaço já estava querendo dominar.

Durante o trajeto encontramos alguns peregrinos que conhecemos ao longo do caminho.

O nosso destino era a pousada Caminho da Serra, no bairro de Gomeral, em Guaratinguetá.

Estávamos descendo, quando vimos um pessoal pregando uma placa numa árvore, naquele trecho já era possível avistar bem de longe a cidade de Aparecida.

A placa era bonita e dizia: “O que te desafia é o que te transforma”. Sábias palavras, registrei é claro e seguimos adiante.

Percorremos mais uns 7 km até chegar no restaurante Chico Bento, ali também paramos para comer e beber algo, fizemos algumas fotos, dali já era possível ver a Basílica bem de longe.

Ao lado no café, compramos o último pedaço de bolo de pinhão, era aniversário do Deco e ele merecia um brinde especial.

Chegamos na pousada pouco depois das 16 horas, foram 27 km percorridos, após a exaustão e cansaço, só queríamos tomar um banho e descansar um pouco.

Por volta das 19 horas subimos no restaurante da pousada pra comer algo e em seguida fomos dormir. O dia seguinte era o Dia D e precisávamos estar com o corpo recuperado.

Terça- – 7 de setembro

O grande dia!

Como nos demais dias, acordamos às 5 horas, tomamos café às 5h30 e partimos às 6 horas.

Nesse dia seriam apenas 20 km, mas o fato do destino final estar cada vez mais próximo, também nos fazia lembrar de como nosso corpo estava cansado e dolorido.

Nossa primeira parada foi na Pousada do Agenor, onde fomos recebidas pela Elen, que nos ofereceu café da manhã. Tomei café e comi um pedaço de bolo.

Seguimos em frente. A cada plaquinha a distância do destino final era menor.

Quando chegamos em Potim e que nos deparamos com a placa indicando 4 km, senti uma emoção enorme, agora faltava bem pouco.

O Deco seguiu direto para Aparecida, deixou o carro lá e veio a pé nos encontrar pelo Caminho. Faltava pouco mais de 3 km quando nos encontramos.

Às 13 horas chegamos no Santuário de Aparecida, eu não acreditava que havia conseguido.

Nosso desafio estava concluído, percorremos 26 km neste dia, foi difícil, cansativo e doloroso, mas conseguimos superar e concluir nossa peregrinação.

Ao todo foram 107 km percorridos e inúmeras pequenas conquistas a cada trecho.

Retornarmos vitoriosas e com planos para novos desafios.

Fim.

Eles no Instagram:

@carolpanuncio

@deco.ghirardello

@mari_panuncio