Fassina “renasce” e sobe com América-RN

Edison Antiqueira Fassina, 71 anos, é um dos nomes mais relevantes da história do futebol do Rio Branco. Dirigente durante duas décadas – 1980 e 1990 -, levou o time à elite paulista e foi um dos idealizadores da filosofia que revelou grandes jogadores e rendeu milhões de reais aos cofres do clube de Americana. Também fez trabalho importante no América de São José do Rio Preto.

 

Deixou de ser cartola amador para ser profissional do futebol. Virou empresário e procurador de diversos jogadores, entre eles, o ex-meia Souza, que Fassina trouxe de Natal (RN) para o Rio Branco ainda jovem e depois vestiu camisas importantes, como as do São Paulo, Corinthians e Flamengo, além da seleção brasileira.

Fassina já não estava tão atuante no mundo da bola quando veio a pandemia. Para preservar a saúde, optou por ficar quieto em casa, na companhia da esposa Maria Helena. Foram infindáveis dias à frente da televisão acompanhando filmes, séries e documentários da Netflix.

No final de fevereiro, uma ligação telefônica mudou o rumo da vida de Fassina. Do outro lado da linha, José Ivanaldo de Souza, o Souza, hoje aos 47 anos, o mesmo Souza que veio jovem para Americana e que em outubro do ano passado fora eleito presidente do América de Natal.

Maior ídolo da história do time potiguar, Souza convidou Fassina para ser diretor executivo de futebol do América, dividindo tarefas com Carlos Moura Dourado, simplesmente Moura, que também jogou no clube da capital do Rio Grande do Norte e já vinha trabalhando por lá.

Para quem conhece Fassina, não é nenhum pouco difícil ter a convicção que o convite de Souza foi como um “renascimento” pessoal e profissional para um dos maiores jogadores de futebol de salão já visto nas quadras de Americana e região nas décadas de 1960 e 1970 – eu não poderia deixar de citar isso no texto.

Fassina aceitou, claro, e foi embora para o Nordeste. Alguns acidentes de percurso no início de trabalho, mas nada que impedisse a sequência do trabalho, que culminou com o acesso do América à Série C do Campeonato Brasileiro da próxima temporada.

Fazia seis anos que o time de Natal estava na Série D e tentava chegar à 3ª divisão do futebol nacional. O objetivo foi alcançado domingo (28), na Arena das Dunas, com vitória de virada e emocionante sobre o Caxias, de Caxias do Sul (RS), por 3 a 1 – o terceiro gol, que carimbou o passaporte (o time gaúcho havia vencido por 1 a 0 no jogo de ida), saiu aos 48 minutos do segundo tempo, para delírio de quase 30 mil torcedores presentes no estádio.

Agora, com vaga já assegurada na Série C, o América vai em busca do título da Série D. Nas semifinais, enfrenta o São Bernardo – primeiro jogo em Natal e segundo em São Bernardo do Campo. O outro duelo será entre Amazonas (AM) e Pouso Alegre (MG).

Na segunda-feira (29), via whatsapp, Edison Fassina conversou com O JOGO. Confira!

O JOGO – Como se deu sua ida para o América?

EDISON FASSINA – Recebi convite do Souza, que assumiu a presidência do América em dezembro do ano passado. Ele me ligou no final de fevereiro, começo de março. Conversamos a respeito da minha ida para ser diretor executivo de futebol, juntamente com o Moura, que é um ex-jogador, ídolo do América, uma pessoa maravilhosa, que já estava na função. Aceitei o convite e eu e o Moura passamos a formar uma dupla. Quando cheguei, no final de março, o time estava disputando o Estadual, vinha bem, foi à final, mas perdeu para o ABC. Vi que tínhamos um bom time, que havia sido montada uma base muito boa, mas que, obviamente, precisava de alguns ajustes, de algumas contratações pontuais e foi onde atuei trazendo alguns reforços.

O JOGO – Quais as principais virtudes do seu trabalho?

FASSINA – O meu trabalho foi baseado em contratações e também numa atuação firme no comando do futebol. Algumas coisas que aqui precisavam ser modificadas, assim foram. Com firmeza e junto com o Moura, procuramos dar uma outra cara ao departamento, uma cara mais profissional. Também conseguimos a harmonização entre comissão técnica, diretoria e jogadores, o que foi fundamental. Todo mundo reconhece isso.

O JOGO – Qual motivação você teve para voltar ao futebol?

FASSINA – Em virtude da pandemia, da idade, de algumas cormobidades, aquelas normais, como pressão alta e diabetes, fiquei bem recluso com minha esposa Maria Helena, basicamente assistindo Netflix. Como o convite partiu do Souza, que é um cara que tive e tenho convivência espetacular, pessoa que admiro muito e sei que a contrapartida é verdadeira, conversei com a Maria Helena e resolvi voltar às atividades mesmo com 71 anos de idade. Me sentia bem no aspecto emocional e com saúde. O convite me trouxe nova motivação para retornar ao futebol, onde passei grande parte da minha vida.

O JOGO – Após o acesso, quais são seus planos? Continua no América?

FASSINA – Aqui sou muito respeitado, até por ter sido procurador do Souza, que é o maior ídolo da história do América e agora mais ainda com o acesso à Série C como presidente. A diretoria toda tem por mim um carinho especial. Nestes meses que estou aqui em Natal, com o meu jeito de ser, fiz muitas amizades. A Maria Helena veio para cá e se adaptou. Nada impede de continuar, principalmente porque o calendário será cheio para o América no ano que vem, com  Copa do Brasil, Copa do Nordeste, Estadual, Série C. Mudou tudo para o clube. É um acesso que era esperado por inúmeros motivos. Posso continuar perfeitamente aqui, mas, como virei novamente um profissional da bola, nada impede de estudar alguma proposta, caso surja.

O JOGO – Você viveu grandes momentos no Rio Branco…

FASSINA – Tive uma fase bastante representativa, que acredito tenha sido a melhor da minha carreira, como vice-presidente de Futebol do Rio Branco. Em 1992, levamos o time ao acesso à principal divisão do Campeonato Paulista. Foi uma conquista fantástica. Quase todo mundo lembra muito de 1990, mas esquece de 1992. Foi a partir dali que o Rio Branco começou verdadeiramente a enfrentar os principais times do Estado. O acesso de 1990 foi espetacular, sem dúvida, mas não por culpa do Rio Branco e sim pela divisão feita pela Federação Paulista, o time foi colocado numa espécie de Série A2 à época, mesmo tendo subido.

O JOGO – Além da questão do acesso, o que mais você destacaria?

FASSINA – O trabalho de desenvolvimento das categorias de base do Rio Branco foi marcante também. Com isso, o clube levantou uma grana bem legal, que foi importante para ficar 17 anos consecutivos na elite do Campeonato Paulista, o que é muito difícil. Isso foi possível em virtude da venda de jogadores vindos da base.

O JOGO – No América de Rio Preto, onde você também atuou como dirigente, teve algo momento especial?

FASSINA – A conquista do Campeonato Paulista Infantil pelo América foi um dos dias mais felizes da minha vida. Acredito que só América e mais um ou dois times do Interior conseguiram essa façanha. Ser campeão paulista em cima de bases como do São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos não é para qualquer um.

O JOGO – Qual o significado do acesso com o América de Natal?

FASSINA – Essa conquista de ontem (domingo) foi emocionante. O América fazia seis anos que estava nesta famigerada Série D. É um clube de torcida imensa. Tivemos públicos de mais de 20 mil, 25 mil pessoas em vários jogos. A torcida é fantástica. O América é clube grande de um estado. Eu sabia disso, mas não sabia tanto. Da força da torcida, da representatividade do clube. Ontem foi uma coisa fantástica, uma emoção fora do cabo. A partir dos 20 minutos do segundo tempo, você toma um gol, já havia perdido em Caxias, os mais de 28 mil torcedores haviam se calado, mas logo voltaram a incentivar de maneira excepcional. E uma virada daquele tipo, nossa, não foi emoção, foi comoção geral no estádio. Foi muito importante para mim, pessoalmente, profissionalmente, que isso tenha acontecido.

O JOGO – Da sua época de dirigente por idealismo aos tempos atuais, o futebol mudou muito fora de campo?

FASSINA – As mudanças são próprias em todas as atividades, não só no futebol. Vejo como evolução. O futebol virou negócio. Acabou aquela história de ser diretor por idealismo, como eu e muitos parceiros fomos no Rio Branco, casos do Gérson (Silva), Zé Luiz (Barbudo), Filé (Gilberto De Nadai), enfim, vários outros – claro que vou esquecer alguns nomes. Fazíamos aquilo porque gostavamos. Depois, para mim, a questão virou profissional. O futebol é negócio, só negócio. Hoje, todo mundo entra no mundo da bola para faturar grana.

O JOGO – E dentro?

FASSINA – Dentro de campo, o futebol evoluiu muito na parte tática, que é muito estudada, principalmente quanto ao aproveitamento dos espaços, essa é a grande verdade. Aproveitar melhor os espaços é uma arte, analisar mais os adversários. São aspectos que passaram a ter maior atenção. A preparação física também evoluiu muito. Na minha visão, ficou mais difícil para o craque jogar, pois, pela evolução da preparação física, a marcação ficou mais forte e o craque encontra mais dificuldade. Mas a essência ainda é aquela do talento, mesmo com mais dificuldade. O talento ainda prevalece e interfere nos resultados das partidas, embora não tenhamos mais talentos extraordinários como antigamente.

Texto: Zaramelo Jr. @zaramelojr