Empresário pedala 280 km para cumprir promessa

Jânio e o irmão Adilson na imagemde Nossa Senhora Aparecida

Na noite de 30 de julho de 1993, dois dias depois de ter completado 18 anos, Adilson Castilho Soares sofreu um grave acidente de moto na Avenida Santa Bárbara. Ao ver o desespero de seu pai ao saber da notícia e que havia pouca esperança de vida para o irmão, o empresário Jânio Souza Castilho Soares, hoje com 43 anos, fez uma promessa: ir de bicicleta até Aparecida do Norte caso o irmão sobrevivesse.

“Cheguei de bicicleta na casa do meu pai e vi o desespero que tomou conta dele com a notícia do acidente. Naquele momento, fiz a promessa. Se Deus preservasse a vida do meu irmão, um dia eu iria com aquela bicicleta barra forte, sem marcha, para Aparecida. O Adilson passou vários dias na UTI, se recuperou e hoje está bem e tem a sua família”, contou Jânio.

De acordo com o empresário, ele manteve a promessa em segredo durante 27 anos e só a revelou há três meses durante jantar com alguns amigos. “Quando contei a história, na hora eles disseram que me acompanhariam. Começamos a fazer alguns treinos. Na semana passada, cumpri a promessa com eles”, disse.

Jânio lembrou que, alguns anos depois do acidente, tanto o pai como o irmão foram embora de Americana e levaram sua bicicleta. Depois da morte do pai, numa visita à casa onde ele morava, o empresário viu a bicicleta jogada no celeiro. Ele a trouxe de volta e a restaurou para realizar aquilo que havia prometido.

Na quinta-feira (3), Jânio e os amigos Gustavo Henrique Teroço e Elias Gomes da Silva partiram rumo a Aparecida do Norte. Saíram por volta das 10 horas do km 125 da Via Anhanguera. Passando pelas rodovias D.Pedro e Dutra, pedalaram até as 23h30. Dormiram em São José dos Campos e, na sexta-feira (4), saíram logo pela manhã e chegaram na Basílica por volta das 11h30. Foram 280 km e 12h40 de pedal – é o tempo que ficaram em cima das bikes.

Na chegada em Aparecida do Norte, Jânio viveu uma das grandes emoções de sua vida. Sem que ele soubesse, lá estavam o irmão Adilson, a irmã Fany e a mãe Mercedes. Impossível conter as lágrimas. “Foi um momento ímpar”, descreveu.

“Além do Gustavo e do Elias, que fizeram o pedal comigo, também tenho que agradecer os amigos Fabiano Trevisan, Rosivaldo Gomes da Silva, Waldemar Castanharo e César Isler, que ajudaram no cumprimento da promessa. E, claro, também minha esposa Ana Paula e minha filha Ana Júlia”, salientou o empresário.

Jânio Soares conversou com O JOGO e contou sobre o “Pedal da Fé”. Confira:

O JOGO – QUAL SENTIMENTO POR CUMPRIR A PROMESSA?

JÂNIO SOARES – Sentimento de dever cumprido mesmo após 27 anos de espera, sem nunca ter revelado isso a ninguém  Apenas foi comentado o assunto da promessa há uns três meses, quando achava que estava tudo pronto para realizar a peregrinação.

O JOGO – SE FOSSE ESCOLHER UM MOMENTO PARA SIMBOLIZAR, QUAL SERIA?

JÂNIO – O momento da partida. Quando fizemos uma oração, fui agradecer aos meus amigos que me acompanharam, o Gustavo e o Elias. E agradecer pelo apoio de nossas famílias. As palavras já não saiam, somente lágrimas e sentimento de gratidão a todos eles. Naquele momento, percebi o quanto o envolvimento da amizade  sincera te leva mais longe e te faz mais forte. Cito este momento, pois foi o primeiro passo em direção a algo que eu sempre me questionei sobre a capacidade de realizar.

O JOGO – QUAL A MAIOR DIFICULDADE QUE VOCÊS ENFRENTARAM?

JÂNIO – Foi preparar a bicicleta no formato original para manter o prometido de pagar a promessa indo com a mesma (bicicleta) que tenho desde 1988. E também conseguir ter resistência para pedalar com todo o peso que estava embarcado nela. Atá um dia antes, a bicicleta ainda dava sinais de problemas, pedindo ajustes e correções da montagem pós-restauro.

O JOGO – CHEGOU A PENSAR EM DESISTIR DURANTE O TRAJETO?

JÂNIO – Após a saída, em nenhum momento me passou pela cabeça em desistir. Porém, uma semana antes, tive vontade de abortar a missão dado o longo tempo de percurso, a exposição que teria e a dúvida em conseguir fazer. O tempo estimado pedalando era alto, o que passou a me preocupar, mas comecei a pensar que eu só deveria ter paciência pra fazer o trajeto e que pressa não ajudaria  em nada. Os fatores que me motivaram a não abandonar, apesar do pouco tempo de treino, foram todos meus amigos envolvidos direta e indiretamente, que me deram muita força, e minha família, que sempre me apoiou.

O JOGO – QUAL PRIMEIRO PENSAMENTO QUE VEIO À MENTE QUANDO COMPLETOU O PERCURSO?

JÂNIO – A única coisa que me veio na cabeça foi “Deus é muito bom!”. Por isso, seja paciente em sua espera. Deus sempre vai colocar em sua vida pessoas que fazem o melhor. Ele permite que cada um vença seus desafios por mais difíceis que possam parecer. O sentimento de gratidão foi algo que eu jamais havia experimentado de tal forma.

O JOGO – FARIA TUDO DE NOVO?

JÂNIO – Faria tudo novamente do modo como foi, sem mudar nada! Até mesmo o cansaço, que apareceu somente no dia seguinte, valeu a pena