Dundes supera covid e vira maratonista na Disney

“Sempre achei que era impossível alguém com mais de 100 kg ser maratonista, mas consegui.” A frase do engenheiro de produto Fábio Henrique Dundes Roque, 36 anos, de Americana, define bem o significado de concluir o Dopey Challenge Walt Disney, desafio de um total de 78 km realizado durante quatro dias, mês passado, em Orlando, na Flórida, nos Estados Unidos.

E a concretização do sonho ganha proporções ainda mais expressivas, pois Dundes, como é chamado pelos amigos, teve que superar a covid. “Testei positivo logo após o Natal, quando já estava nos Estados Unidos. Além de não conseguir fazer a última fase de treinamentos, no primeiro dia do desafio ainda sofri com algumas sequelas”, disse o agora maratonista.

O Dopey Challenge consiste em 5 km no primeiro dia, 10 km no segundo, 21 km (meia maratona) no terceiro e, enfim, 42 km (maratona) no quarto e último dia. Além de tornar-se maratonista, Dundes trouxe na bagagem nada menos do que seis medalhas, quatro delas pelo Dopey (uma por dia), que é conhecido como Desafio do Dunga, e duas pelo Desafio do Pateta, realizada de maneira simultânea nos dois últimos dias.

Numa mistura de alegria emoção, Fábio Dundes falou com O JOGO. Confira!

O JOGO – POR QUAIS RAZÕES VOCÊ DECIDIU PARTICIPAR DO DOPEY CHALLENGE?

FÁBIO DUNDES –  Fiz para me desafiar. Pratico triathlon e minha pior modalidade é a corrida. Conversei com o Willian (Barbosa, coach da Triaction Team) antes de fazer a inscrição e ele deu o “ok”. Tem também a questão que meus pais moram nos Estados Unidos, então conciliei a prova com visita à família. E a questão de ser na Disney é especial, pois é um lugar mágico, com energia muito diferente.

O JOGO – COMO FOI A PROVA PARA VOCÊ?

DUNDES – Sendo bem sincero, achei que não seria possível concluir. Tive alguns contra-tempos durante os treinos e uma semana antes do Desafio testei positivo para covid, lá nos Estados Unidos. Foi bem complicado. No primeiro dia da prova, não tinha dormido na noite anterior, não estava com a respiração legal, mas como eram só 5 km foi como um regenerativo. No segundo dia, nos 10 km, já estava me sentindo melhor e as coisas fluíram. No terceiro, sabia que precisaria curtir, não forçar, pois minha cabeça estava no desafio dos 42 km. Então, fui melhor do que imaginei nos 21 km porque estava esperando fazer em três horas e fiz em duas horas e meia, inclusive tempo melhor que minha última meia maratona. Acabei sem dor, sem lesão e zerado para a maratona, que era meu principal desafio.

O JOGO – VOCÊ PLANEJAVA VIRAR MARATONISTA?

DUNDES – Tinha isso como objetivo, como sonho, mas não era para agora, era para o ano que vem, mas uni o útil ao agradável. Na hora que começaram os 42 km, segui os conselhos do Rogério (Almeida, ultramaratonista de Americana que também fez a prova nos Estados Unidos), principalmente não pensar na distância total e sim dividir em quatro fases. E assim foi. Passei os primeiros 10 km em uma hora e sete minutos, quase um recorde pessoal para mim, ai passei os 20 km em duas horas e 21 minutos, e vi que estava num ritmo muito forte. Empolgação, energia do local, vendo um mundo de pessoas, algo surreal. Estava me sentindo muito bem. Nos 27 km, comecei a sentir um pouco, pois não havia feito nenhum treino acima de 25 km. Apesar de dores nas pernas, vi que era possível chegar até o fim. Até chegar aos 35, 37 km foi meio dolorido, mas lá no Epcot (parque da Disney) olhei no relógio e falei “cheguei, né!”.

O JOGO – CONSEGUE DESCREVER A SENSAÇÃO DE CONCLUIR A PROVA E VIRAR MARATONISTA?

DUNDES – A sensação é indescritível. Achava que a maratona para um gordinho era impossível (risos) e eu estava ali inteiro, sem lesão. Olhava ao meu redor, via as pessoas com cara de desespero, dor, e eu ali sorrindo, sem acreditar que estava chegando, o coração na boca, imaginando que ia virar maratonista. Os últimos km foram de curtição, puxei mais forte no finalzinho e passei com seis horas e 15, esperava fazer em seis horas e 45 e chegando “morto” (risos). Quando passei a linha de chegada, realmente foi emocionante, a ficha não caia. Ali com a família, minha esposa (Kátia), minha filha (Cecília), foi muito bacana, bem emocionante.

O JOGO – QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES ENFRENTADAS NO DESAFIO?

DUNDES – Minha maior dificuldade foi a questão da covid, que me impediu de fazer a última semana de treino. Todo mundo que me conhece sabe que tenho vida social bastante agitada (risos), então brigo com o peso (pesa 115 kg). Tem também o aspecto de saber que faria um desafio com total de 78 km, sendo que nunca tinha feito um treino de mais de 25 km. Era um pouco insano, mas no final deu tudo certo.

O JOGO – PENSOU EM DESISTIR EM ALGUM MOMENTO?

DUNDES – Em nenhum momento isso passou pela minha cabeça. O Rogério, que já tem 27 maratonas nas costas, me adiantou as dificuldades que teria pelo caminho, mas acho que pela energia tão grande que havia na corrida, sendo na Disney, tanta gente junto, muita gente olhando, tudo isso me motivou. No primeiro dia da prova, quando eu ainda estava com  sequelas da covid, passa um filme pela cabeça do tipo “não vai ser possível”, mas graças a Deus foi um dia melhor que o outro. Até nas horas que doia, pensava na quantidade de pessoas que queria estar fazendo o que eu estava fazendo.

O JOGO – PLANEJA VOLTAR AOS ESTADOS UNIDOS PARA FAZER O DESAFIO DE NOVO?

DUNDES – Vou fazer a próxima edição, em 2023. Já vou ficar atento às inscrições, porque é bem díficil conseguir. Se esgotam bem rápido. Quero ver se vou melhor preparado para baixar os tempos.

O JOGO – QUAL SUA PROGRAMAÇÃO DE PROVAS PARA ESTE ANO?

DUNDES – Pretendo fazer algumas provas de triathlon olímpico como preparação para o 70.3, que é o meio ironman de São Paulo. Já estou inscrito. Quero também fazer mais uma maratona, não sei se em Porto Alegre, Florianópolis ou na Argentina. Em paralelo, até como treinos para essas provas, farei várias meias aqui pela região.