Bardi realiza sonho e busca medalha em Tóquio

Com apenas 8 anos, após se destacar nos Jogos Escolares Municipais, Felipe Bardi dos Santos foi indicado pela professora Elaine Juliani, da Emef Florestan Fernandes, para o técnico de atletismo Márcio da Costa Silva. Ali começava a trajetória do velocista de Americana, que, a partir do próximo dia 31, realiza um sonho de criança e inicia sua participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Aos 22 anos e em sua primeira temporada na categoria adulto, Felipe Bardi está confiante e vai em busca da medalha no Japão. Ele estará nas provas dos 100 metros rasos e no revezamento 4×100 junto com Derick Souza, Jorge Vides, Paulo André e Rodrigo do Nascimento. E é no revezamento que o americanense vê maiores chances de estar no pódio.

Bardi chegou dia 17 na capital japonesa. Morando e treinando em Santo André – é atleta do Sesi, comandado pelo técnico Darci Ferreira -, o velocista já tem trajetória vitoriosa no esporte. É também sargento da Marinha e participa de competições militares.

Em entrevista ao O JOGO, Felipe Bardi falou do início do atletismo, das conquistas, dos momentos difíceis e dos planos para o futuro. Confira os principais trechos!

O JOGO – COMO FOI SEU INÍCIO NO ATLETISMO?

FELIPE BARDI – Comecei com 8 anos. Estudava na Emef Florestan Fernandes, na Morada do Sol, e fui campeão dos Jogos Escolares Municipais, se não me engano nos 50 metros rasos e no salto em distância. A professora Elaine me indicou para a escolinha do técnico Márcio, no Centro Cívico. Fui um dia, me lembro que era uma segunda-feira, mais ou menos meados de março, abril, e não sai nunca mais.

O JOGO – QUEM FOI SEU MAIOR INCENTIVADOR?

BARDI –  Na época, foi o Márcio. Ele viu que eu tinha potencial, que ia crescer, ficar mais alto, mais forte. Minha família e minha mãe também sempre me deram força, sempre fizeram o que podiam para que eu tivesse as melhores condições no esporte.

O JOGO – QUANDO VOCÊ SE DEU CONTA QUE O ATLETISMO SERIA SUA PROFISSÃO?

BARDI – Foi quando sai de Americana, em 2014, e fui para Piracicaba, onde tinha a equipe de alto rendimento do Sesi. Foi ai que recebi o primeiro salário e até falei para mim mesmo “acho que virei atleta de verdade mesmo”. Treinava de segunda a sábado. Ficou bem legal.

O JOGO – JÁ CAIU A FICHA QUE VOCÊ ESTARÁ NUMA OLIMPÍADA?

BARDI – A ficha ainda não caiu, né… (risos). Acho que vai cair quando chegar lá, quando chegar na Vila Olímpica. É um sonho, um sonho de criança. Falo até hoje que desde o primeiro dia, quando comecei no esporte, com 8 anos, lá atrás, tinha o sonho de participar de Jogos Olímpicos. Já participei de Pan-Americano, de Sul-Americano, de Mundial, um monte de competições, e só faltava a Olimpíada. É um sonho que está se tornando realidade com 22 anos, meu primeiro ano na categoria adulto.

O JOGO – O QUE O ESPORTE MUDOU NA SUA VIDA?

BARDI – Mudou tudo, né. Estou no esporte desde criança. Hoje vivo do esporte. Tudo que tenho, devo ao esporte. Andar de avião, conhecer diversos países. Devo muito ao Sesi por toda a estrutura e pela oportunidade de ser um atleta olímpico. Minha família está radiante, está explodindo de alegria. Sempre que eu corria bem, eles me aplaudiam. Se corria mal, me aplaudiam também. Sempre estiveram comigo. Não me vejo fora do esporte. Não vejo Felipe Bardi fazendo outra coisa.

O JOGO – ACREDITA QUE TEM CHANCES DE MEDALHA EM TÓQUIO?

BARDI – Sim, acredito. No revezamento, temos chances claras de sermos medalhistas. Estamos numa vibe muito boa, o time está muito bom, a gente está treinando muito bem, a equipe é unida. Nos 100 metros é um pouco mais difícil, mas quero chegar na final. E se chegar, ai são oito raias e tudo pode acontecer.

O JOGO – QUANDO COMEÇOU A COMPETIR, PASSAVA PELA SUA CABEÇA SER ATLETA OLÍMPICO?

BARDI – Sim. Sempre tive o desejo de ser atleta olímpico. Vou contar um fato que aconteceu logo que comecei. Em 2008, o Bolt (Usain) fez o que fez na Olimpíada de Pequim e assombrou o mundo com as três medalhas de ouro. Ninguém conhecia o Bolt. E eu falei “quero ser igual esse cara e na mesma competição”. O Bolt me influenciou bastante para ser o que sou hoje.

O JOGO – EM ALGUM MOMENTO PENSOU EM DESISTIR?

BARDI – Já pensei sim. 2018 e 2019 foram anos difíceis para mim, com lesões sérias, a principal delas no púbis. Foi a mais séria da minha carreira, fiquei quatro, cinco meses parado. Perdi o ano. No ano seguinte, voltei correndo mal. Foi um momento muito difícil e até me questionei se conseguiria ser veloz novamente, voltar ao alto rendimento. Porque nesse período meus adversários correram e eu fiquei parado. Tinha dúvidas se estava no caminho certo, se não havia chegado a hora de parar. Tinha só 19, 20 anos, bem novo.

O JOGO – ENTRE TANTAS CONQUISTAS, QUAIS AS PRINCIPAIS ATÉ AQUI DA SUA CARREIRA?

BARDI – Vamos ver se lembro de todas… (risos). Sou tricampeão paulista, campeão brasileiro, campeão sul-americano. No Sul-Americano, participei de três edições e fui bronze, prata e ouro. Bronze no Pan juvenil. Sou medalhista no Troféu Brasil, bronze em 2017, uma medalha inédita, pois era juvenil e fui medalhista no adulto. Foi aí que apareci para o mundo do atletismo. Sou campeão do GP Brasil, vice do Troféu Brasil este ano. E sou campeão mundial escolar, em 2015, na China. Por ai vai…

O JOGO – PLANEJA COMPETIR ATÉ QUANDO? E DEPOIS, SEGUE NO ESPORTE OU VAI BUSCAR OUTRO CAMINHO PROFISSIONAL?

BARDI – Pretendo competir até ter mais de 30 anos, uns 33, 34 anos. Até onde o corpo aguentar. Certo é que não quero parar cedo não. Ainda sou novo, tenho muito a conquistar. Depois, pretendo estudar, pois agora está muito difícil para fazer faculdade porque passo muito tempo fora do Brasil. Nesta temporada, estou há quase seis meses. Comecei na Califórnia (EUA), aí teve o Mundial na Polônia, voltei para o Brasil, fui para o Equador no Sul-Americano, agora estou em Portugal e depois vou para Tóquio. Fica muito difícil conciliar os treinos e os estudos. Pretendo estudar sim, fazer Educação Física. E, talvez, ser técnico ou montar algum projeto. Não tenho intenção de sair do meio do esporte.

O JOGO – SE FOSSE DIZER “MUITO OBRIGADO!”, A QUEM DIRIA?

BARDI – Nossa, tem muitas pessoas que costumo dizer que correm por mim, pois o Bardi não corre sozinho. Diria “muito obrigado” à minha professora Elaine, que teve esse olhar clínico e me indicou para o professor Márcio. À minha família, à minha mãe, meus treinadores. Só tenho a agradecer a todos.