Engana-se totalmente quem pensa que vida de aposentado limita-se a dormir e ver televisão sentado no sofá. Ainda mais quando se fala de José Ângelo Coelho, 67 anos, também conhecido pelos apelidos de Alemão e Capitão. Nascido em Jaú, veio para Americana quando tinha 12 anos e há quase meio século está casado com Sueli Bonaldo.
Engenheiro civil com algumas pós-graduações, entre elas, em gestão ambiental, trabalhou durante 44 anos numa empresa de Valinhos. Aposentou-se em janeiro de 2016. O espírito esportivo – sempre jogou futebol em campeonatos municipais e nos minicampos dos clubes – o levou, assim que chegou a aposentadoria, a dedicar-se a caminhadas de longa distância e bike.
E, após o “Caminho do Sol”, que marcou sua estreia, nunca mais parou. Até aqui, foram mais de 2 mil km percorridos por cidades e estados do Brasil, do Chile e da Venezuela. E ele não tem a menor intenção em parar. Pelo contrário, vai seguir em frente nas estradas (a maioria de terra).
Além de atividades físicas, Coelho tem agenda repleta. Está envolvido em trabalhos voluntários, faz parte do comitê gestor do condomínio onde mora, é integrante de entidade, cuida do jardim, da horta e da piscina da casa e também do carro, lê dois livros por mês e faz cursos pela internet. Ah, e claro, programa suas caminhadas.
“Essa impressão que aposentado fica só dormindo e vendo tv não é bem assim. Tenho agenda cheia. É fundamental para saúde física e mental manter-se ativo”, ensina Coelho, que falou com O JOGO. Confira os principais trechos da entrevista!
O JOGO – Há quantos anos o senhor realiza as caminhadas de longa distância?
JOSÉ ANGÊLO COELHO – Já joguei bastante futebol na minha vida, inclusive por aqui no Amador, depois no Senior, disputei vários campeonatos de minicampo no Rio Branco e no Veteranos. No entanto, minha vida profissional não permitia muitos compromissos, pois viajava bastante e ficava fora de Americana, principamente nos dias em que havia jogos. Por isso, passei a me dedicar a caminhadas e um pouco de atividade em academia. Logo que me aposentei, comecei a incentivar a parte de caminhada, que me adaptei bastante, e bicicleta também. Há seis anos venho com bastante intensidade na caminhada.
O JOGO – Como surgiu a ideia das caminhadas?
COELHO – Vendo meu computador, aqui em casa, recebi uma mala direta do “Caminho do Sol”, que sai de Santana de Parnaíba e vai até Águas de São Pedro, uma réplica do “Caminho de Santiago de Compostela”. É um caminho particular, organizado e capitaneado pelo escritor José Palma. Foi o primeiro caminho que fiz. Foram 264 km em 12 dias. E ai me apaixonei pela caminhada de longa distância.
O JOGO – Qual foi a mais longa de todas? E a mais curta?
COELHO – A mais longa que fiz, tem empate técnico. “Caminho da Fé” e, mais recente, “Cora Coralina”, em Goiás, ambas com 320 km. A mais curta foi um problema que tive, quando estava fazendo em Minas Gerais o “Caminho de Nhá-Chica”, uma santa que tem santuário em Baipendi, ao lado de Caxambu, e que recentemente foi canonizada pelo Papa Francisco. Na metade do caminho, com 120 km, tive o azar de pisar num buraco, sofri torção de tornozelo e precisei parar e retornar. Ficou sendo só a metade, por isso foi a mais curta, mas ainda pretendo terminá-la.
O JOGO – Durante todo esse período, quantos km o senhor percorreu? Passou por quantas cidades e quantos estados?
COELHO – Somei mais ou menos e, fora os treinamentos, passou de 2 mil km de caminhada. Foram inúmeras cidades, certamente mais de 50, mais de seis estados e fora do Brasil também caminhei no Chile e na Venezuela.
O JOGO – Faz alguma preparação frequente ou apenas quando tem caminhada marcada?
COELHO – Pratico caminhada diariamente, intercalando com bike. Faço 10 km com minha esposa num dia, no outro faço 20 km, outro faço 8 km, sábado e domingo dou uma descansada, e alguns dias pedalo 50, 60 km e algumas vezes batendo 90, 100 e 110 km de bike, principalmente quando a galera está com bastante gás. E também faço um pouco de academia, deveria fazer mais, para reforço muscular para evitar estiramento e cãibras durante as caminhadas.
O JOGO – O que mais o motiva a manter-se nas caminhadas?
COELHO – É um relax. É muito intimista, pois cada caminhada tem um significado, as paisagens nos remetem para a infância, lembrando o que passamos, há uma parte mística em que se reza e canta muito. A caminhada nos faz refletir muito, além de conhecer novas culturas, novas pessoas.
O JOGO – Quais os principais desafios enfrentados até hoje?
COELHO – Fiz duas caminhadas sozinho de 260 km cada. Hoje não faço mais. Precisava fazer essas duas para me auto-afirmar que poderia sobreviver sozinho. Cheguei a caminhar 10 horas, 30 km, sem ver uma única alma. A caminhada é bastante interessante para que possamos identificar que somos capazes de fazer isso.
O JOGO – Quando foi a última caminhada?
COELHO – Foi em junho, o “Caminho de Cora Coralina”, saindo de Corumbá, a 130 km de Brasília, até a Cidade de Goiás, antiga capital do Estado. Foram 320 km e ainda subimos o Monte dos Pirineus e a Serra de Jaraguá.
O JOGO – Já tem alguma nova agendada?
COELHO – Tenho sim. Será o “Caminhos de Caravaggio”, com 200 km em oito dias. Iniciaremos em Gramado e chegaremos em Farroupilha, no Rio Grande do Sul, entre os dias 8 e 17 de setembro.
O JOGO – Se fosse dizer “muito obrigado”, a quem diria?
COELHO – Não tenha dúvida que para a minha esposa. Fizemos recentemente 43 anos de casamento, mais cinco de namoro. Estamos juntos há quase meio século. É minha incentivadora e minha parceiraça.